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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A História do Rock Brasileiro - Parte II Rock Brasileiro dos anos 80

A transição para um novo tipo de governo liberal democrático só viria acontecer a partir de meados dos anos 80. De acordo com a pesquisa feita por Essinger, antes disso, o cenário musical da MPB de FM reinava apesar de relativa abertura política. O rock manifestava-se com o pop rock “água com açúcar” de Guilherme Arantes, Marina, Ney Matogrosso, Angela Rô Rô, 14 Bis, Beto Guedes, Eduardo Dusek, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, A Cor do Som e Rádio Táxi.


Enquanto isso na Europa e nos EUA surgia o movimento New Wave substituindo o rock pesado de gerações anteriores. Vale lembrar que naquela época as novidades musicais internacionais, chegavam somente pela distribuição das gravadoras e da televisão, jornal e revistas. Não havia esta ferramenta poderosa de comunicação do século XXI que é a Internet .
E começaram a surgir novos grupos influenciados por esta cultura de mídia. O discotecário e jornalista Júlio Barroso funda a banda Gang 90 e as Absurdetes, fazendo sucesso no Festival MPB Shell 1981 com o reggae Perdidos na Selva parodiando os filmes B em suas letras. 

Outro exemplo de originalidade surgiu com Asdrubal Trouxe o Trombone, grupo teatral carioca que satirizava os excessos de seriedade da MPB. De seus participantes, Evandro Mesquita e Lobão (baterista, ex-Vímana) formam a Blitz com influências teatrais. O nome veio devido às constantes blitz que sofriam da polícia. A banda tinha o apoio das vocalistas Márcia Bulcão e Fernanda Abreu, caindo no gosto popular e atingindo as paradas de sucesso. Lobão não concordava com a direção comercial do grupo e abandonou a banda.


Lobão e Cazuza


A Blitz virava fenômeno nacional com as canções Você Não Soube Me Amar, Nada,nada, nada...,Bete Frígida e outros. Aproveitando o embalo Lobão lança seu disco Cena de Cinema, tornando-se depois um dos mais ativos compositores do cenário do rock brasileiro, gravando seus discos Ronaldo foi pra Guerra, O Rock Errou e Vida Bandida.
Aparece então Eduardo Dusek com seu rock deboche de Cantando no Banheiro, no estilo rock anos 50. A banda João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, segue a mesma fórmula de Dusek. Outro ex-integrante do Vímana, Lulu Santos, lança-se com o sucesso do seu disco Tempos Modernos. O Barão Vermelho decola com Cazuza no vocal em Pro dia Nascer Feliz. Até então todos estes novos ídolos vindos do Rio de Janeiro iriam dividir espaço com as novas bandas surgidas nos movimentos Punks de São Paulo como Inocentes, Ratos de Porão, Cólera e Olho Seco.
Como as grandes gravadoras tinham suas sedes no Rio de Janeiro, começaram a investir nas bandas de São Paulo a partir de 1983, como Titãs, Magazine, Ira!, Ultraje a Rigor. Vindos de Brasília, mas morando no Rio, os Paralamas do Sucesso, trazia suas influências do ska, reggae do trio britânico     Police, conseguindo emplacar vários sucessos como Meu Erro, Óculos, Vital e Sua Moto.

Em 1985, aconteceria um dos maiores festivais que marcaria história, o Rock In Rio Festival. Em um terreno na Barra da Tijuca (RJ) de 300 mil metros quadrados com uma estrutura gigantesca de palco com 70 mil watts de som, 100 toneladas de equipamentos, 3500 kVA e a presença de bandas internacionais de renome como Queen, Yes, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Scorpions, Rod Stewart e outros, ao lado de bandas nacionais: Blitz, Barão Vermelho, Lulu Santos, Paralamas do Sucesso e Kid Abelha. Tal evento seria aproveitado pelo mercado cultural, pois o Festival foi transmitido ao vivo pela Rede Globo de Televisão. Logo, a divulgação de produtos ao público jovem seria em massa. Afinal neste ano comemorava-se o ano internacional da juventude.
Rock in Rio 1985
No mesmo ano o Legião Urbana, grupo liderado por Renato Russo, do Distrito Federal, marcaria sua história também, com suas letras políticas mostrando a realidade social brasileira.

Outras importantes bandas que viriam de Brasília também seriam Capital Inicial, Plebe Rude, Finnis Africae e Detrito Federal. Em São Paulo durante a segunda década dos anos 80 chegariam os grupos Camisa de Vênus e RPM. E apareceria um novo tipo de mercado: o alternativo ou underground, que eram lançados pelo selo independente Baratos & Afins, cuja loja de discos existe até hoje no centro da cidade de São Paulo. Lançou artistas como Musak, Akira S & As Garotas que Erraram, Chance e Ness, Mercenárias, Smaack, Voluntários da Pátria e outros.
Do sul do país viriam os representantes do rock gaúcho Engenheiros do Hawai, Replicantes tocando punk-hardcore com a música Surfista Calhorda. O ano de 1986 foi um sucesso para as gravadoras devido à breve estabilidade econômica do Plano Cruzado. Venderam-se discos de bandas de rock como nunca. Contratavam qualquer banda com influências roqueiras. Outros que já vinham demonstrando saúde comercial em anos anteriores. Lançavam discos que viravam clássicos da MPB como Cabeça Dinossauro (Titãs), Que país é este (Legião Urbana), Selvagem (Paralamas do Sucesso) e no ano seguinte, Lobão com seu disco Vida Bandida, refletindo sua experiência após ter ficado preso na Polinter  do Rio de Janeiro por posse de drogas, e Ultraje a Rigor com o disco Sexo.
Legião Urbana

Ultraje a Rigor


Mas a partir de 1988, o Rock entraria em crise. O Legião Urbana vive um episódio fatídico em um de seus shows no Estádio Mané Garrincha em Brasília, quando um deficiente mental agrediu Renato Russo no palco e a polícia reagiu contra a platéia, deixando um saldo de 385 feridos. Após este incidente o baixista da banda, Negrete, abandona o grupo.
As gravadoras se mantinham pela venda dos discos lançados nos anos anteriores dos outros grupos. No dia 7 de julho de 1989 morria Cazuza, vítima do vírus da Aids. Alguns meses depois Raul Seixas, na pobreza e sem reconhecimento, também faleceria. Enfim o Rock encerrava mais uma fase. (Essinger: 1999). 

Geração MTV

Este último sub-capítulo, teve como referência o autor Silvio Essinger que segundo ele com a estréia da MTV no Brasil em 1990, o canal de vídeo clipes americano inunda as TVs brasileiras através de transmissão em UHF. A sua programação direcionava mais atenção aos artistas internacionais de língua inglesa. Junto com a MTV, o Plano Collor do Presidente do Brasil Fernando Collor de Melo, causa a redução industrial e comercial em todas as atividades. Este acontecimento histórico na vida dos brasileiros, que acreditaram na nova esperança política presidencial, não foi rejeitada pelos olhares atentos das novas bandas do começo dos anos 90, bandas com um gênero mais agressivo e pesado do punck-hardcore, como a Ratos de Porão, com o polêmico João Gordo no comando dos vocais usando um português irreconhecível.

Na linha do trash metal internacional, o Sepultura alcançaria seu sucesso no exterior, logo outras bandas tentariam o mesmo caminho sem muita repercussão.
Vindos de gênero bem mais leve o Skank, de Belo Horizonte, conseguiu espaço na mídia após gravar seu primeiro cd com a gravadora Sony – esta que se interessou pelo trabalho após reconhecer o retorno que a banda conseguia com seu disco independente em Minas Gerais a tal ponto que a gravadora não alterou nada do disco, estando nos moldes do gosto dos produtores – em 1992 gravam seu CD pela Sony.

De Recife surgiria uma das mais conceituadas inovações no Rock brasileiro, Chico Science & Nação Zumbi & Mundo Livre S/A. que misturavam o ritmo do maracatu com rock e o rap.
Assim nascia o movimento. Mangue Beat. A idéia do nome veio de um manifesto escrito por Fred 04 e Renato L – Caranguejo com Cérebro – em 1993 foram contratados pela Sony: Chico Science & Nação Zumbi. O Mundo Livre S/A assinou com o selo Banguela Discos dos Titãs. Desta maneira, abriram as portas para outros grupos do gênero como Mestre Ambrósio, Cascalho, Sheik Tosado e outros.


Chico Science & Nação Zumbi atingiram respeito e admiração da mídia e da crítica. Em 1995 fizeram uma turnê pela Europa tocando junto com os Paralamas do Sucesso. No ano seguinte lançaram o CD que virou clássico: Afrociberdélia, com a participação de Gilberto Gil na faixa Macô. E tiveram seu primeiro sucesso nacional com a música Maracatu Atômico dos compositores Jorge Mautner e Nelson Jacobina.
No dia 2 de dezembro de 1997, Chico Science morre num acidente de carro em Recife. Esta perda afetou de maneira emocional a banda e o movimento, que superando a tragédia, continua até hoje.

O gênero do Rap se fundiria cada vez mais com o Rock, com o aparecimento de Gabriel Pensador e suas letras inteligentes e bem humoradas. O Planet Hemp também apareceu no mesmo rastro, com Marcelo D2 e BNegão, fazendo polêmica sobre a liberação da maconha. E outra banda de Brasília com influências do punk-rock dos Ramones e o baião de duplo sentido – os Raimundos.
Mas o sucesso comercial dos anos 90 veio de Guarulhos, São Paulo, quebrando recordes de vendas chegando a mais de dois milhões de CDs vendidos. Os Mamonas Assassinas com o carismático vocalista Dinho, conquistaram o público brasileiro de maneira meteórica, pois em 2 de março de 1996, morreram em um acidente de avião na Serra da Cantareira, em São Paulo.

Oito meses depois o público brasileiro teria outra despedida: Renato Russo faleceria devido ao vírus da Aids. O mercado do rock consegue se manter com alguns veteranos da década passada como os Paralamas, Lulu Santos, Titãs, Kid Abelha, Barão Vermelho, Capital Inicial. Todos eles graças à nova fórmula desenvolvida pela indústria cultural, o Acústico MTV. E a volta do interesse pelos ritmos brasileiros com o Pop Rock ressurge com artistas da MPB também.  Foram eles: Paulinho Moska, Pedro Luís e a Parede, Lenine, Chico César e Zéca Baleiro. De Minas Gerais viriam mais dois representantes, Jota Quest e Pato Fu. Fazendo a fusão do Reggae, Funk, Rock e Hip- hop, temos os cariocas do Rappa.

No ano seguinte apareceriam novas bandas como o Charlie Brown Jr., com seu skate-rock e Los Hermanos com a balada romântica que tocou nas rádios intensamente: Ana Júlia. A partir desta data, Autoramas e Penélope seriam as mais novatas bandas no mercado do Rock. Enquanto isso Lobão se levantaria das cinzas lançando seu disco em bancas de jornal e na internet, com seu selo Universo Paralelo o álbum A Vida é Doce. (Essinger: 1999).

Século XXI: Banalização e falta de criatividade

No ano 2000 o cenário do Rock viria a conhecer bandas como o Tihuana lançando seu CD com o nome ilegal junto com a faixa Tropa de Elite. Lançando seu CD independente, temos a banda Leela. Vindos de Barueri em São Paulo, temos  o CPM 22 foi a banda de maior sucesso, naquele começo de século, do cenário roqueiro. Outra banda carioca foi os Detonautas em 2002. Sendo a primeira banda a gravar um vídeo clipe no celular.
Adimirável Chip Novo é o nome do álbum de lançamento de Pitty, cantora de rock pesado estreando no mercado musical brasileiro com influência que vão desde Raul Seixas a Heavy Metal. A baiana Pitty de é a líder do grupo, já com o segundo CD lançado em 2005 – Anacrônico.


Atualmente o Rock brasileiro vive certa estagnação, com repetições de várias fórmulas desgastadas de sucesso imediato que ainda trilham os modelos de exportação dos Estados Unidos e Inglaterra de comportamento juvenil, como por exemplo, o movimento Emo, derivado da palavra inglesa “emotion”, sem criatividade e bastante apelo visual. Um dos seus representantes marcaram bem as paradas de sucesso das rádios brasileiras é o NX Zero, evidenciando mais uma vez, como sempre, a manipulação dos produtores gananciosos das gravadoras, pouco interessada em qualidade musical, sustentando cada vez mais a distância da realidade musical popular brasileira de qualidade das grandes massas. 

Outras banda se destacaram bastante no rock brasileiro obtendo uma projeção internacional, como é o caso do Angra com seu heavy metal progressivo, embora cantando letras em inglês.

O Oficina G3 do mercado musical gospel se destaca bastante com sua pegada mais virtuosística dando bastante enfase a qualidade instrumental.


Até a próxima com mais novidades em meu blog.

Alê de Nina

Referências bibliograficas e de internet:
TINHORÃO, JOSÉ - A Historia Social da Música Popular Brasileira
ESSINGER, SILVIO. A História do Rock Brasileiro, 1955 a 2000, disponível em: <http://www.cliquemusic.com.br>.Acesso em: 31 mar. 2008.






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